terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Absenteísmo

É engraçado como essas pessoas que abordam na rua para evangelizar não deixam em paz quem responde ser ateu. Quem disser que é Judeu ou Budista pode seguir seu caminho tranquilamente, mas, se for ateu, vai ter que ouvir a mensagem até o fim.

Eu conheci um sujeito particularmente perturbado que ia até a parada de ônibus e gritava que "o anjo negro está vindo". Talvez o anjo negro fosse um motorista daquela linha e nunca descobri se isso era bom ou ruim.

Pois bem, ateus costumam ser bastante convictos de sua escolha, ao contrário dos religiosos em geral. Conheço muitos católicos que frequentam centros espíritas ou casas de umbanda. Ateus também gostam muito de discutir suas crenças, enquanto pessoas religiosas costumam ficar ofendidas.

No entanto, discutir religião (ou falta dela) com profetas de esquina não é lá muito divertido. Portanto, a melhor opção é apenas indicar uma religião e evitar confrontos. A minha opção é o Absenteísmo.

Em poucas palavras, o Absenteísmo prega que Deus existe, mas que não está. Não temos sequer certeza sobre se Ele sobreviveu à criação. Pode ser que Ele tenha morrido no Big Bang. Pode ser que a mãe d'Ele o tenha colocado de castigo por ter bagunçado a cozinha. De uma forma ou outra, Ele não está aqui ou nas redondezas. Se estivesse, certamente daria sinais claros de sua presença e teria uma conta no Facebook, pelo menos.

Criei uma divisão sectária como forma de dar mais veracidade à crença. Os absenteístas cômicos formam um grupo fudamentalista que alega que Deus não aguentou a falta de humor da humanidade e foi embora. Enquanto as pessoas gastarem seu tempo em atividades sérias, como ir ao culto ou participar de romarias, Ele não voltará. Levantar a questão da óbvia falta de esportividade de Deus neste ponto causa grande estresse (que eles insistem não constituir mau humor) aos seguidores dessa linha. Assim como noutras religiões, os absenteístas fundamentalistas não percebem as contradições em seus dogmas.

Seja qual for a linha do absenteísta, ele não é compelido a comparecer a nenhum culto (quem vai ouvir as preces??). A corrente fundamentalista, porém, sugere ler Douglas Adams e assistir The Big Bang Theory ao menos uma vez por semana por se Ele resolver dar uma incerta.

Os absenteístas devem pagar o Písimo que, obviamente, é 3,141592% do rendimento anual do fiel (os valores podem ser creditados na minha conta do PayPal). Gastos com educação e diversão podem ser deduzidos. A beleza do Písimo é que a precisão pode ser aumentada para acomodar os fiéis muito ricos ou que ganham salário em dólares do Zimbábue.

O Absenteísmo vem com uma licença GPL. Logo, qualquer um pode criar sua crença derivada. Já antevejo que alguém vai lançar o Absenteísmo Orientado a Objetos, por exemplo. No entanto, reservo-me todos os direitos sobre adesivos de para-choques.

Eu não mantenho registro dos fiéis, mas tenho notícias de que no Congresso Nacional a bancada absenteísta já é bastante numerosa.

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